MÚSICA
ARTES VISUAIS
Água que somos
LITERATURA
Sagatrissuinorana
Porque todo conto pode ser contato a vera
Nelson Cruz e João Luiz Guimarães
Concerto de abertura
Cristian Budu e Gustavo Carvalho, piano
SESI Yves Alves Cultural Center
Wolfgang Amadeus Mozart
Sonata para piano a quatro mãos em Ré Maior
K. 381
Allegro / Andante / Allegro molto
Franz Schubert
Fantasia em fá menor D. 940
Johannes Brahms
Valsas op. 39
Franz Schubert
Divertimento all'ungherese D. 818




Confluence between thinking, artistic making and manifesting.
SESI Yves Alves Cultural Center
As reflexões acerca das relações de pertencimento territorial, geográfico e cultural ocupam um espaço central no processo criativo do artista visual mineiro Eduardo Hargreaves. De que forma as subjetividades decorrentes dos processos do colonialismo e do neocolonialismo interferem na construção do espaço e do lugar do próprio indivíduo, assim como de um povo e de uma nação?
O conjunto de obras que compõem a exposição Brasil, Hy-Brasil transgridem as convenções que regem a cartografia para apresentar um território em perene construção e desconstrução, rizomático, desafiando-nos a reconsiderar o território graças à presença do arbitrário como terreno para a partilha do sensível. A fluidez presente nas imagens de Hargreaves realçam a negação como resultado das (rel)ações exploratórias e extrativistas que, aos poucos, vão consumindo as paisagens, relevos e os pontos de referência subjetivos. Dormentes que outrora testemunharam o transporte desses lugares na ávida busca pelo desenvolvimento, sustentam no espaço expositivo imagens estendidas como bandeiras, demandando-nos envolvimento a fim de atravessar as diversas camadas das montanhas de minas que cercam e norteiam o nosso cotidiano para (r)estabelecer uma conversa direta com a força simbólica e flagrante das montanhas de Minas. Um labirinto de imagens é oferecido ao olhar. Uma extensão sensível do reino da visão, onde a aparição dos elementos é objeto de uma constante dualidade entre o que podemos ou não reconhecer. No entanto, na intenção de fazer existir próximo de si aquilo que ao longe escoa, Hargreaves não se esquiva da confrontação com a decepção. Por meio de uma construção godardiana, percorre os gélidos cômodos da memória no desejo de vislumbrar a sua dissolução, alcançando novas paisagens através do apagamento. Nesse processo, não há coincidência entre a localização de um território cujo mapa consultamos e a imagem mental que surge em nós à chamada de seu nome como sedimento depositado na nossa memória.
A fronteira entre a não-paisagem concreta e pública e a paisagem abstrata e privada é constantemente modificada e, nesse espaço intersticial, imiscui-se a criatividade. A refinada cromia e a visceralidade dos traços do artista criam uma impressionante topografia emocional, porta aberta rumo ao imaginário criativo e sensível. Na paisagem contemporânea, muitas vezes reduzida a um repositório de vidas e memórias camuflado sob uma não paisagem, a obra de Eduardo Hargreaves incita-nos a uma relação proxêmica trajetiva e sugere ainda a necessidade de reconstrução de uma cartografia sensível face ao horror da paisagem que nos cerca.
Luiz Gustavo Carvalho, curador




Confluence between thinking, artistic making and manifesting.
SESI Yves Alves Cultural Center
Imagem, palavra, ser e gesto. A água como pele. Corpos – universos; cada qual carregando seu oceano de saberes. Olhares que narram a história da cartografia hídrica, da memória da água. Através da poética do desenho confluem os cursos de nossos rios interiores. A linha como expressão e linguagem, tradução gráfica de estruturas que vertem um pensar. Corpo é água – somos corpo, água que somos.
Os presentes trabalhos nascem de uma confluência de desejos: desvelar, como primeira morada, o corpo humano e sua composição. Esse corpo que narra nossa vida, atravessa espaços para, a partir das margens, interpretar, reordenar e lançar novas propostas para construir – ou desconstruir – a cultura, a cidade, as formas de interação com os recursos naturais e com outros seres que habitam esse planeta azul.
Realizados pelas crianças, adolescentes e adultos participantes da Ação Cultural Artes Vertentes, os trabalhos aqui expostos registram um olhar subjetivo sobre tais corpos: as águas e seus movimentos, visualidades e invisibilidades. O traço que delimita cada universo, constrói espaços para reflexões confluentes em conhecimento e autoconhecimento. O próprio corpo desenhado delineia-se como mediador do diálogo com o externo, registra e instiga o pensamento e a percepção sobre o que nos cerca. A fluidez da nossa interioridade espelha a relação do sujeito com o mundo. A partir desse novo olhar, de fluxos artísticos, memórias e reflexões, através do traçado de tintas sob um papel, entendemos que é preciso que cada ser viva e conte suas histórias pelos afetos que lhe constituem.
Ísis Bey e Ísis Alcântara, Curadoras e arte-educadoras
da Ação Cultural Artes Vertentes
A programação da 10ª edição do Festival Artes Vertentes recebe os autores João Luiz Guimarães e Nelson Cruz para uma conversa sobre o livro Sagatrissuinorana, vencedor do Prêmio Jabuti na categoria livro do ano. Sagatrissuinorana, um (re)conto à moda roseana, revisita a história dos três porquinhos, mas tendo como pano de fundo as desastrosas relações mantidas entre homem e a natureza. “Às vezes - dizem os autores -, o homem pode ser o lobo do lobo.”